segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Lealdade canina

Estávamos refletindo sobre o assunto, o que fazemos sempre, pois vira e mexe, somos alvo da fraqueza humana mais pérfida de todas: a desonestidade. Comigo, foram duas, Geisa* e Barbarella*, ambas amigas (?) que não se fizeram de rogadas quando virei às costas, comeram o resto da minha fatia de bolo. Babada e tudo. Ambas estavam do meu lado em momentos difíceis, me deram mãos, carinho, abriram portas de suas casas, ouviam-me, viram o que passei com os namorados canalhas. Cada uma há seu tempo, é inegável, teve uma participação positiva em minha vida.
A primeira era minha amiga de escola e pista. Tudo que era festa e boate nós batíamos ponto, com salto de mais, saia de menos e excessiva dose de diversão. As ligações telefônicas eram intermináveis, especialmente quando André decidia que era hora de pastar em outras terras. Como bem cantou Rita Lee “me libertei daquela vida vulgar” e resolvi, a duras penas, pastar eu mesma. Tornei-me uma verdadeira vaca indiana, sagrada quero dizer. Todos os pastos e pistas eram meus. Mas isso não me fez feliz de verdade. Até o dia em que ela chegou, com cara de quem não sabe o que fazer e nem como, perguntou “você ainda gosta do André?”. Hum... Mulher quando pergunta a outra se ainda gosta do ex boa coisa não pode ser. E não era. Tudo bem que eu já estava a bordo do namorado 0 km, mas não haveria de esquecer quatro anos em duas semanas. E ela sabia disso. Quem não saberia? Ainda mais estando tão próxima a mim. Quando finalmente abriu o verbo, a amizade não segurou a barra das meias palavras e frases interminadas “estávamos na Lapa... ele me deu carona...”. O resto fiz questão de não saber. Disse-lhe num rápido e frio bilhete na portaria: na dúvida, é melhor deixar pra lá. Não briguei, não bati boca, apenas me afastei.
A segunda era minha amiga de pista e lágrimas. Eu dormia na casa dela, juntas passávamos a noite no baile charme, no samba, na Lapa. Telefone, Orkut, e-mail, MSN. Nossa amizade era boa e reconfortante, uma sempre dava colo pra outra sofredora. A fama dela não era das melhores, mas como nunca fui santa e sempre tentei não julgar, ignorava os comentários. Já no finzinho do namoro com Rodrigo, ela foi o ombro amigo que me amparava e indicava os melhores ombros masculinos pra afogar as mágoas. Sorte minha, invariavelmente preferia ficar em companhia das lágrimas que em braços outros. Era o tipo da mulher que não tem medo de nada, mete a cara no que for, e dane-se o que os outros vão pensar. E foi assim que chegou até os meus ouvidos – porque ela vivia na boca do povo – que ela e Rodrigo, bem, estavam andando juntos. A amizade era forte até aquele momento, questionei e quase fui apedrejada no melhor estilo dane-se você. Dias depois, minha cunhada – namorada do meu irmão – os viu no Circo Voador, e ela, a amiga da onça, altíssima pela bebida, se debatia com a dúvida cruel se ficava aquela noite com um ou com outro. Mais uma vez, a melhor das respostas: meu silêncio. Estávamos analisando estes casos, eu e Cátia. Aconteceu com ela também. “Você ficaria com o A.?” e a amiga: “Agora não, mas no futuro, talvez.” E por isso a amizade foi pelo ralo.
Muitas pessoas nos criticam pelo radicalismo nas relações, mas acontece que são atitudes impensáveis de nossa parte. Eu jamais ficaria com A. e sei que ela jamais olharia para meu ex mais recente. Isso se chama respeito ao sentimento alheio. Tudo bem, não é mais namorado, mas o coração não processa essa informação tão rápido assim. Se hoje uma delas, até mesmo Cátia, quisesse um dos dois do passado, putz, só teria a lamentar a escolha, mas não teria a conotação de traição ou deslealdade. Mas naquelas épocas... Mais do que qualquer coisa, o sentimento de amizade deve prevalecer, pois os objetos do desejo não prestavam, não era segredo, mas a amizade deveria ser maior que tudo, até mesmo que o ímpeto mais primitivo da mulher, incontido e devastador que atua sobre o modelo masculino motorizado: mercenarismo agudo. Ao passarmos pela amiga de Cátia, ou melhor, ex-amiga, perguntei se ela não iria falar com ela. A resposta foi no estilo navalha “pensasse antes de fazer”.
Guardei essa frase que se tornou a máxima de uma série de atitudes que pessoas tomam em relação a mim, das quais se arrependem depois. Pensasse antes. Como a gente diz quando é criança, desculpa não passa dor.
É bom que se saiba exatamente o que está em jogo ao fazer certas escolhas. Vale à pena? É merecido? Agüenta a conseqüência? Se responder a tudo com “sim”, vá em frente sem medo de errar. Mas se tiver um pingo de respeito ao próximo, algum valor pelo sentimento do outro, cuidado ao escolher palavras e ações. Podem não ter volta. Pensamento da semana: terapia faz bem até quando não se está fazendo. Juliana transformando minha vida! Até mais. L. (*) Nomes levemente trocados para preservar a identidade das aves de rapina.

2 comentários:

Lelo disse...

Amei esse eu texto... Me identifiquei mto.. Tbm tenho blog se quiser dar uma olhadinha...
http://aletourinho.blogspot.com/
Bjsss
Alê

thigo barbosa tg disse...

huahuahaa
po e eu passei o teu link pq li canina...rs
mas o texto tah ótimo como sempre. lendo o seu blog e da alê me deu vontade de voltar a escrever. to voltando. dah uma olhadinha lah. BJuuuu!

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