terça-feira, 23 de setembro de 2008

Aqui por dentro...

Rio, 23.09.08 – 01:12 AM

Novamente o raio cai, lenta e dolorosamente. Sempre no mesmo lugar, duas vezes no mesmo lugar: meu coração, terra sem lei onde qualquer um entra e faz o que quer.

Tento não me sentir mal, tento não me fazer de vítima do meu próprio crime, mas as vezes é quase impossível manter a cabeça erguida diante de tantos tapas da vida. E eu me permito levar. No fundo, acho até que eu devo gostar, pois sempre estou me desafiando a fazer por onde levar, e cada vez pior.

Há exatos quatro anos eu estava aqui. Mesmo lugar do mundo, mesmas mentiras, mesmo corpo meu. De início pareceu ser só coincidência, mas não demorou muito para que a besta do meu apocalipse particular mostrasse suas ventas cuspidoras de fogo e seu quase angelical rosto sofredor de quem apenas sofre de amor por mim. Mais um!

Nenhuma, nada, zerada, vazia, nula é a necessidade de estar tão longe de casa, a essa hora, cansada, com frio e fome. E as vésperas das provas na faculdade. Chega a ser uma tentativa de suicídio moral. Talvez eu esteja tentando me provar que, no fundo, como eles sempre disseram, quem não presta sou eu.

A autoflagelação que me imponho parece se sofisticar com o passar dos anos. Antes, na madrugada escura e sozinha dentro do carro abafado e apertado, o estacionamento do shopping era o ouvinte e espectador das noites e tardes em que apenas Marvin Gaye e as lágrimas me faziam companhia. Hoje parece que nada mudou, nem mesmo o tamanho dos cabelos, a não ser a poltrona dura da sala fria onde assisto a noite dar lugar a uma gélida madrugada.

O corpo está cansado e as pernas cobertas apenas por uma fina meia preta, arrepiam-se a todo momento com o vento que passa pelas frestas da enorme porta de vidro.

Não há aí nada que possa ser pior do que a esbofeteante constatação de que tudo isso é a toa.

Sair de tão longe, atravessar a cidade tarde da noite após uma dupla jornada de trabalho e aula, tudo em busca de mais confusão. Acho que nunca estarei satisfeita com o que eu me faço e me deixo fazer de mal.

E se as lágrimas caem...

Tudo se repete. Eu e minha grande incompetência em me fazer feliz. Eu e minha infinita capacidade de gostar de espinhos, azedo, mágoas e mentiras. Se isso não é do meu próprio querer, não sei mais que nome dar a estar de volta ao shopping, quatro anos depois, mesmíssima época do ano, mas desta vez sem os saquinhos de doce, a troco de nada, a não ser ver e ouvir as fitas repetidas das mentiras.

Ninguém é culpado. Só eu. Como sempre, vim porque quis. Vim no ônibus sonhando aquele sonho bonito outra vez. Mas eu sei que eu, carrasca de mim mesma, não permitirei que o mesmo sonho aconteça comigo.

Já são 2:00h da madrugada que sobe cada vez mais fria. E eu queria gritar e sair daqui, sair de perto de mim, pra longe, bem longe onde eu nunca mais pudesse me ver e fazer mal. E aí, sim, eu teria uma única oportunidade de tentar ser feliz, separada deste alter-ego cruel que me leva em corpo e alma para as situações em que eu seja obrigada a pagar tudo de ruim que já tenha feito.

Peço perdão de joelhos, não quero mais pagar. E eu me digo que ainda não é suficiente. Ainda tem 3 horas de sono, o suficiente para mim. E o trabalho amanhã, bem como a aula, será um concerto de vozes e expressões estranhas, das quais irei querer não saber e me refugiar no mesmo local em que, encontro tudo, menos paz.

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Escrevi ontem de madrugada, no meio de um brainstorming solitário. Duas páginas e meia do caderno que deveria carregar esperança. Quando o peito ameaçou desaguar num incolor profundo de lágrimas, sentei num canto para por no papel, já que não havia computador por perto. Escrever no papel é tarefa mais fácil, porém menos prática que no editor de texto. As idéias fluem mais naturalmente enquanto o punho desliza sobre a folha, no entanto não dá pra apertar o F7 e corrigir eventuais errinhos, pontuação ou concordância. Sendo da geração Word, fico encafifada imaginando os grandes autores do passado, transformando toda sua arte literária nos livros históricos de hoje. E apesar de ter começado no papel, quando a grana ainda não podia bancar o possante em que me encontro agora, senti que transformar idéias em letras arredondadas e nervosas é mais interessante do que vê-las se acabarem numa Arial qualquer.

*-*

O dia não foi bom. Muita confusão e exigências para minha pequena cabecinha atarefada. Muitas responsabilidades e pouca cabeça pra cumpri-las. Dei um pequeno chute no balde e não gostei nenhum pouco do que fiz.

O ser humano quando nasce pra ser ruim, não há Salvador que consiga mudar. E tem gente que se esmera tanto, que faz discípulos. Acabo de virar uma página e deixar para trás um ser sem personalidade, tato e com total falta de respeito pelo alheio. E confesso, se ficasse mais um pouco, seria eu a nova discípula do mal. Sim, admito, eu já estava agindo como tal: enganando, mentindo, endurecendo e desrespeitando. Pior de tudo: estava me fechando em mim, achando que me basto para ser feliz. E eu não só não me basto, como preciso demais de outras pessoas para ser feliz em quantidade.

Amanhã tem prova e assim será até o final da próxima semana todos os dias. Não quero que Deus me ajude. Ele já faz tanto por mim, me permitindo sair e chegar sã e salva todos os dias, não posso abusar. Peço apenas que me mantenha tranqüila e em paz de espírito nesta semana que promete ferver.

*-*

Meu grudinho rumo a ABL! Ali do lado, Loo. Vale a pena conferir, eu já ri e chorei junto.

*-*

Frases do dia:

ter ficado com o X. me trouxe uma coisa boa: foi através dele que conheci vc”, de uma amiga terminando com um amigo pilantra.

minha amiga querida do meu coração...”, bati o msn na cara e quando voltei, recebi isso.

como te falei da outra vez, mete o pé disso”, rsrs a lógica diretíssima das pessoas práticas.

Amanhã será melhor. Tenho fé em Deus, meu maravilhoso Deus.

L.

Um comentário:

Anônimo disse...

eu quero entender que não me basto.
eu acho q acredito nisso pra me convencer de que não é dor, nem saudade, as coisas q eu sinto por causa de lembranças e arrependimentos que tento, sem sucesso, ignorar.

Preta, vc faz parte do meu todo.
Quando é que chega o dia do nosso encontro, hein?!

Um beijo enorme.

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