quinta-feira, 24 de abril de 2008

No topo do mundo

Tarde da noite e eu aqui absolutamente sem sono. Como? Por quê? Ansiedade com o dia que não tardará a chegar. Ansiedade de resolver os problemas que o coração me causa.

Não sei se todos são assim. Dizem que Deus colocou a cabeça sobre o coração pra que ela pudesse comandar e não ele. Mas comigo acaba acontecendo o inverso. Emoção 200 x 0 Razão. E por isso fico aqui, ansiosa por ter um dia importante pela frente e sofrendo por estar sozinha, sem uma mão amiga e afetuosa pra tentar acalmar. Vi esse filme há dois anos e confesso, detestei. Foi até pior, pois na noite em questão, passei em claro, chorando, brigando, pedindo, discutindo, esquecendo o tamanho da mulher que eu era. Vi o dia chegar, em pé, na rua, olhos inchados. Horas depois, após descer no ponto errado, estava perdida em São Gonçalo, atravessando as duas pistas da BR101, sob o forte Sol de meio-dia. Logo depois, já em solo carioca, tinha apenas R$2,00 e uma sede terrível. Pagar a passagem de volta pra casa ou matá-la? Bom, em casa pelo menos teria água. E apesar de todas as dificuldades do dia, de todos os percalços e provações pelas quais passei, ainda assim a dor maior era não ter a pessoa que amava do lado.

Burrice pouca é bobagem.

Ainda pouco ameacei fazer o mesmo, mas fui salva do dragão do sofrimento desnecessário. E ontem foi mesmo dia de São Jorge. Amanhã, ou melhor, hoje, pois ainda não dormi, será um dia cheio, complicado no trabalho e no qual terei de ter a habilidade de uma dançarina do ventre. Hipnotizar com um mero movimento de quadris. Bom, estou falando num sentido figurado.

A viagem de “descanso” não merece comentários. Mas uma coisa deve ser registrada, momento mágico e único. Contrariando todas as mais pessimistas previsões, no domingo fez uma fabulosa tarde de Sol. Apesar da chuva iminente, saquei o biquíni e fui à praia. Entrei preguiçosamente nas águas do mar de Cabo Frio, sempre meu amigo, que recebeu-me com o costumeiro carinho e calma, num abraço morno e macio. Banhei-me, lavei-me, deliciei-me com a água salgada que corria pele afora e a liberdade que crescia alma adentro. Sorri para mim mesma, afinal, no meio da tempestade, ainda assim eu estava me dando a oportunidade de ser feliz. Sorri por pensar que não é necessariamente um corpo masculino que me traz felicidade. Eu estava só, apenas eu e o mar, meu querido e misterioso mar, numa cumplicidade de anos, que homem nenhum seria capaz de estragar aquele momento. Deu vontade de gritar, esticar os braços, tirar os pés do chão e virar cambalhota. Mas no mínimo me taxariam de louca. “Mas louco é quem me diz que não é feliz. Eu sou feliz”, assim cantava Ney Matogrosso.

Mais duas ou três vezes voltei ao mar, mesmo com o Sol querendo sair de cena. Em dado momento, após sair da água, avistei a duna que tantas e tantas vezes deixei passar, a caminho da areia. Lá estava ela, como um porto seguro. Subi, fui tentar segurar o pouquinho da luz que ainda poderia aquecer aquele frio dia. No meio do caminho, uma interrupção, achei que o dia fosse finalmente se tornar agradável, mas estava errada. Minha fé, porém, seguiu inabalável. Desci com raiva, mas tornei a subir rumo a duna. Ao chegar ao topo, com cuidado devido a vegetação rasteira que continha espinhos, eu era finalmente a Dona do mundo. Era bastante alto ali. Atrás de mim o mar, na frente e bem longe as imponentes construções de veraneio e em redor, miniaturas indefesas de gente. Fechei os olhos por um momento e me vi no ponto mais alto do mundo, onde eu podia tudo, nada seria capaz de me machucar e nem ninguém. Lá não havia amor e nem mágoa, nem mentira e nem meia verdade, nem falsidade. Lá, meu corpo era algo assim de perfeito. Respirei fundo e senti o quão bela eu era ali no topo do mundo. Bem devagarzinho o calor foi me deixando. Abri os olhos e o astro-rei ia se despedindo, com seus cachos dourados luzindo por detrás dos prédios. Era hora de voltar. Desci da duna feliz, tão feliz que corri novamente pros braços do mar. Novamente sorri, sim, eu estava feliz. Não, não, constatei finalmente, eu sou feliz.

Esta lembrança me ajudou a não cair na mesma armadilha de anos atrás. Quando pensei que fosse chorar, alguém sacudiu o tabuleiro, o jogo virou e eu acabei chorando mesmo. Mas de alegria. Nós, cancerianos, viemos ao mundo pra semear alegria, amor e ajuda.

Novos horizontes desenham-se em minha frente. Loo diria “vai logo, deixa de ser boba!”. Catia diria “segue teu coração e põe na balança”. Fê diria “sabe o que eu penso sobre isso, né?”. Meu amigo diria “pára de palhaçada!” hahahahaha Conselhos tão distintos... Minha razão é forte, mas não aprendeu a dominar o coração.

Mas...

Coração não agüenta as pancadas das conseqüências do que ele quer e aí sobra pra razão. A coitada tem sempre que limpar a bagunça quando a festa acaba. E sozinha.

Ah, já ia esquecendo. No sábado passei pelo hotel Nanuque. Lá se vão 6 anos... Não dói mais, só ficou a lembrança de um fim de semana conturbado, com um final quase feliz. rs No rastro dessa lembrança, veio uma outra notícia: o casal que nasceu do meu sofrimento, nessa mesma época, que ergueu-se sob os escombros do que era meu relacionamento, acabou por ser corroído pelo tempo. Se estou feliz? Se estou vingada? Sinceramente não sei, não parei pra pensar nisso. Mas confirmo o que já sabia: ninguém pode ser feliz causando a infelicidade dos outros.

Bem, voltando a vaca fria, hoje, último dia do feriadón, fui lá na Monte Alegre. O cheiro daquele lugar é impressionante! Minha divertida adolescência volta em segundos. Divertida e selvagem! rsrs Deveria me sentir entristecida devido aos marcantes acontecimentos da época, mas pelo contrário, guardei os bons momentos e do resto apenas fiz lição. Subi a ladeira sem suar, sem aflição, cantarolando com meu fone de ouvido e saltitando com meu All Star branco. A casinha da Mamãe é a mesma, a vista é a mesma com seu inconfundível cheiro de carambola. Deliciosa tarde, entre subidas e descidas, risadas, intermináveis conselhos, mercado, lan house e bolo. E, claro, a soneca sagrada. No fim do dia, olhei pra cima. O susto foi grande ao perceber que a casa onde eu passava algumas noites e tardes de fim de semana, foi vendida. A varanda arredondada, a sacada que dá vista pro mundo todo, as janelas com vitrais vermelhos... O grande casarão foi vendido para alguém que abriu todas as janelas e jogou um tapete verde pra secar na grade da varanda, tudo que a velha nunca faria. Parei e fiquei olhando pro alto, lá onde a velha não deixava a gente ficar... rs Tanta coisa eu vivi naquela casa, naquela sala, no quartinho, até na entrada onde ralei os dois joelhos e desmaiei. Eita! E lá se vão... nossa! São mais de 10 anos! Muito maior do que o susto, foi a percepção de que o tempo está passando, depressa e nada durará pra sempre. De repente me senti cansada...

O final da noite foi legal. Controlei-me, ri um pouco e ainda tirei sarro com os flamenguistas que estão morrendo de medo do confronto de domingo.

Pensamento da semana: Não me dê liberdade demais. Eu posso gostar e não querer mais voltar.

Que Deus me ajude amanhã.

L.

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