quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

A História da Faca e do Espelho – parte 3

O dia seguinte é sempre a pior parte de qualquer momento especial, seja ele bom ou ruim. O meu não seria diferente, dormi até bem tarde e quando me sentei ao computador pra enfrentar a realidade, lá estava ele. O que dizer? Então vamos lá, talvez não falar seja a melhor saída... Não, nunca é, mas naquele redemoinho de sensações e descobertas, as palavras se tornaram desnecessárias, havia sido bom e ponto final.

Conversamos bastante e havia a possibilidade de nos encontrarmos de novo, no mesmo local e horário, mas desta vez eu teria que ir sem Cátia, o que não me agradava muito, já que ele iria trabalhar e eu passaria boa parte da noite sozinha naquela selva de hiphopeiros-gangstas-tupiniquins. Apesar do tentador convite, fiquei em casa, maquinando uma forma de acabar com aquela palhaçada. Eu não podia e não devia sentir nada por aquela criatura! Nada a ver nós dois, água e óleo completos. Mas por mais que eu tentasse me punir, achar algo de feio ou sujo nos beijos que dei e recebi, por mais que quisesse rabiscar aqueles momentos, o desenho já havia sido colorido e eu não parava de pensar em tudo aquilo. E pior ainda: não parava de querer mais.

No domingo, lá fomos nós novamente. Só que dessa vez levei outros dois cúmplices: irmão e cunhada. Apesar de temerosa, marquei de encontrá-lo sozinha e deixei que os dois nos esperassem na porta do Armazém. Quando cheguei à Lapa, encontrei-o com uma pequena barra de chocolate pra mim. Mas que pena! Era chocolate branco, logo o que não gosto. rsrs Boa tentativa. Após um breve estalinho, mega tímido de ambas as partes, rumamos para nossa noite única, já que dessa vez ele não iria trabalhar.

Entramos no Armazém, já os 4 e eu, acho que estava escrito, fui a primeira a atravessar o portão. Logo de cara, o ex. Seria a primeira vez que ele me veria com alguém, eu não sabia se estava pronta, se queria ser vista, o que sentiria, se aquele era o cara certo pra ser vista do lado. Mas respirei fundo, fingi que não o vi, endireitei o corpo dentro do short branco pra me sentir ainda mais gostosa, e me deixei ser abraçada na frente de todos, inclusive dele, sem o menor receio do que viria depois. Porque eu faria o depois.

A noite foi nada menos que mágica. Andamos de mãos dadas, rimos, vimos e ouvimos. Ainda havia um enorme muro invisível entre nós, mas parecia que aos poucos a vontade de escalá-lo ia ficando mais forte. Novamente um show dos Racionais. Meu coração apertou tanto que pensei que fosse desmaiar quando cantaram Vida Loka parte 2. Por três motivos: primeiro, porque é a música que me lembra meu irmão, a quem um da quase perdi, por muito, muito pouco, e que agora estava ali do meu lado, alto, bonito e forte, cantando e dançando feliz. Segundo, porque era uma vitória pessoal. Quando descobri que o ex estava saindo com uma amiga minha (amiga?), decidi esquecer o coração e agir, pegar de volta as rédeas da minha vida e ir atrás do que de fato me fazia feliz, e esta música pontuou este momento. Enquanto os dois estavam no show dos Racionais, no Circo Voador, eu saía da faculdade, super cansada e triste, após uma prova da faculdade. A prova me voltou com um perfeito 9,0 e a certeza de estar no caminho certo. E terceiro, porque ali estava eu, me sentindo finalmente uma Guerreira vitoriosa, ao lado de uma pessoa legal, que estava participando daquilo tudo comigo, mesmo sem saber.

O final da noite, que já não era noite, mas sim um fantástico chuvoso dia de trabalho (!) é algo a ser eternizado. Espero conseguir traduzir em palavras todos os sentimentos daquela manhã.

Ele me levou até em casa, pra tomar banho e trocar de roupa, já que não daria tempo de dormir, afinal, eram nada menos que 7h da manhã de segunda-feira. Paramos no caminho, pra descansar e aproveitar os últimos minutos com beijos que pareciam últimos também. Não havia mais chuva, nem haveria trabalho depois. Havia um vão, um espaço descoberto, um vazio a ser preenchido. Havia a respiração de ambos, que se tornou única, havia, no entanto, dois corações batendo em ritmo alucinado, mentes com mil respostas pra poucas perguntas. Um beijo se fez presente, minha cabeça girou em cima do pescoço, meus braços apertaram-no no afã de nunca mais acabar, ou de morrer ali e eternizar aquele maravilhoso momento. Nos olhos, estrelas brilhavam incessantemente.

Aquela segunda-feira tinha chuva apenas na cidade. Aqui dentro, havia um paraíso redescoberto, pássaros voavam e cantavam sua melhor canção de felicidade.

Ele era o homem que eu queria? Definitivamente, não. Mas se tornou o único com possibilidade real de me fazer feliz. E estava conseguindo. Em um mês estávamos namorando.

Se alguém me dissesse que isto estava escrito no livro de Deus, eu acreditaria sem questionar. Não havia motivo, não havia vontade e mesmo assim, tudo saiu bem. Com todos os receios e os contras, não fui capaz de resistir ao meu próprio desejo, cedi covardemente, caí de joelhos e assumi a derrota. No final, venci e conquistei o coração do cara que fez o vídeo, que me queria beijar, que me levou ao hospital e dividiu noites no Bobs comigo. No final, Michel venceu a minha resistência, foi forte o bastante pra suportar meus ataques, pra entender meu gênio forte e lutar pelo meu coração. No final, ambos erguemos o troféu dos casais que percorrem caminhos distintos e depois descobrem que jamais poderiam ter vivido sem se conhecer.

Lá se vão 1 ano e mais 3 meses da história da faca de Ogum e do espelho de Oxum. O final dela não sei qual será, mas espero que meu Escritor favorito nos reserve ainda muitas e boas surpresas.

L.


P.S.: Amo.


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